sexta-feira, 15 de maio de 2009

POLÍTICA É COISA PARA EDUCADOR, SIM

Edivaldo Monteiro Andrade
Professor de História da EE Nedaulino Vianna

Depois de uma extensa jornada de visita às escolas nesses nove dias de greve dos trabalhadores em educação da rede estadual de ensino, chego à conclusão hoje, no dia 15 de maio, que alguns colegas tascam no ar a idéia de que educador bom é o que só dá aula e que política não é coisa para se fazer na escola. Com outras palavras, muitos acreditam que bom mesmo é estar tudo calmo, em paz, mesmo que essa paz seja como aquela encontrada nos cemitérios, que é compulsória.É de pasmar. Em pleno regime democrático, o Brasil que se alimenta da TV é obrigado a engolir preciosidades como essa, que deviam ter sido enterradas junto com o regime militar, finado há mais de vinte anos.
Utilizando o mesmo argumento, o governo Ana Júlia tenta passar uma imagem ilusória para a sociedade, dizendo que os professores não devem fazer greve e que devem ficar na escola dando aula. A democracia para esse governo está vindo por conta das eleições diretas para diretor de escola, no entanto, esse “caldo democrático”, acaba por mascarar os problemas da educação pública no Estado do Pará. Não que eu seja a contra as eleições. Mas para a mentalidade oficial, a dos que dominam, que se expressa através da imprensa e de seus organismos oficiais, política não é coisa para educador, é para os políticos. É assim, por exemplo, o tratamento dado quando resolvemos lutar por nossos direitos. O governo logo taxa: “Essa greve é política”.Claro que a greve é política, pois toda ação desempenhada pelos seres humanos não são por acaso. Tudo o que se faz é uma ação política, pois o homem é um ser político.
Mas para esse governo que está assentado no Pará, a democracia é apenas formal, já que o grosso da população vota, mas não manda nada. Nosso sistema econômico é muito conveniente para quem tem capital para investir a custos baixos, pagando salários de fome, e de preferência não tendo compromissos com a melhoria da vida do povo. É fantástico para os políticos profissionais, que, em regra, representam os interesses de quem tem dinheiroClaro, portanto, dentro dessa lógica, que educador é feito para dar aula e política é coisa para políticos. Quanto mais chucra, dócil e passiva for a nossa categoria, feita na maioria de pessoas bem instruídas, com nível superior, mais tranqüila será a vida dos governos capitalistas . E onde, por definição, se forma - ou deveria se formar - uma camada de gente pensante? Na escola. Ora, então é preciso convencer os educadores de que eles não têm nada a ganhar se metendo onde não são chamados.Alguns dirão que os educadores do Pará – e seus colegas de outras instituições públicas – são privilegiados justamente porque estão lá e que, por isso, não são porta-vozes da massa assalariada. São privilegiados sim.
Pela mesma lógica da desigualdade de oportunidades entre os que têm e os que não têm. Mas é aí que está o valor das suas manifestações. Porque são pessoas de famílias que, no mínimo, poderiam ficar caladas, pois, de um jeito ou de outro, acabarão se virando na vida: escaparam do destino de miséria e desilusão de quem vive na pobreza. São estes, na verdade, que sofrem mais duramente os efeitos de um sistema educacional centrado na escola-empresa, regida pela competição mais despudorada e que faz do ensino o equivalente a uma lata de conservas numa prateleira, cujo valor é determinado pelas leis do mercado.Numa nova versão do “crescei e multiplicai-vos”, que dispensa investimentos estatais, esse modelo educacional foi alavancado no Brasil pela mesma onda que impôs reformas na previdência e que ameaça direitos trabalhistas E que fala em parcerias do Estado com empresas privadas, como se isso fosse um achado e não uma forma disfarçada de cada vez mais comprometer o poder público com interesses particulares, em benefício dos últimos.
Pois bem. Os educadores mudos e distantes da política que a mentalidade oficial sugere, pela voz do governo, são aqueles acomodados que permanecem no conforto que sua posição lhes proporciona; são os que, no ano passado, não se solidarizaram com os colegas que foram espancados e que enfrentaram as bombas porque pediam melhorias nas condições do ensino público; são os que não percebem que é impossível estar vivo e não fazer política e que a omissão é, sim, uma atitude política, mas conveniente apenas para quem tem o poder nas mãos; são os que fingem não notar as enormes injustiças de um sistema que incentiva o “ter”, mas não permite que todos “tenham”; são aqueles que perderam a capacidade de se indignar com os desmandos dos poderosos que usam o Estado para dar tudo aos amigos e “a lei” para os outros. Não são educadores, são mortos. Seus corpos descansam do que nunca fizeram e gozam a doce paz dos cemitérios.

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